A Coleção, doada pela família Juri, apresenta o eixo temático da cartografia americana, produzida desde o século XVI até o século XX por autores de múltiplas procedências. Cada período histórico é contemplado
com material da época. Esta coleção é composta por mapas, documentos, cartas, gravuras, postais e livros.
A cartografia é apresentada como um reflexo do conjunto de noções transmitidas através do sistema
educativo, e que são percebidas como parte de uma herança cultural coletiva. Nela se encontram plasmados dois temas centrais: como se formou a atual configuração dos limites internacionais e a constituição demográfica e étnica da população.
4 – A. Tierra Nova (Girolamo Ruscelli – 1561)
Gravação em cobre e pintada a mão
O impressor deste mapa foi Girolamo Ruscelli, um escritor, editor e cartógrafo italiano. Entre seus trabalhos cartográficos mais importantes encontramos a gravação que compõe o mapa que vislumbramos diante de nós.
Ele foi feito em Veneza e denominado “Terra Nova” devido a iminente primeira desembarcação europeia na América. No mapa são representadas a América do Sul e parte das regiões africanas próximas das Ilhas Canárias.
Podemos ver os paralelos e meridianos, junto com o Equador e o Trópico de Capricórnio. Também são mencionados os principais portos no Oceano Atlântico e alguns no Oceano Pacífico (seus nomes aparecem em alguns casos em sentido inverso, favorecendo diferentes formas de leitura).
Além disso, são destacadas as vias fluviais dentro do continente, entre elas o percurso do Rio Amazonas, com o nome de «Rio Marañón», situando seu nascimento embaixo do Río da Prata (atualmente se sabe que o Rio Maranhão é um afluente do Amazonas e nasce nos Andes peruanos). No extremo sul, podemos ler «Y. de Sanson» ou «Ilhas Sansão», uma das denominações das Ilhas Malvinas em outros períodos históricos.
4 – B. Gazeta de Buenos Aires.
Edição extraordinária, 17 de setembro de 1810
A «Gazeta de Buenos Aires» foi o primeiro organismo de imprensa das ideias patrióticas. Suas edições contaram com a participação de Juan José Castelli, Manuel Belgrano, Manuel Alberti, Pedro Agrelo, o Deão Gregorio Funes, Bernardo de Monteagudo; entre outros.
Seu lema, traduzido do latim, era a frase de Tácito: “Tempos de rara felicidade são aqueles nos quais se pode sentir o que se quer e é lícito dizer”
A Gazeta era impressa na “Real Imprenta de los Niños Expósitos”. Nela funcionava a imprensa que tinha sido trazida da Europa ao Colégio de Monserrate em Córdoba que, após a expulsão dos Jesuítas (1767), foi comprada pelo Virce-rei Vértiz e levada a Buenos Aires. A Gazeta deixou se ser publicada no dia 12 de setembro de 1821.
A notícia principal desta edição extraordinária relata a ordem da Primeira Junta, por iniciativa de Manuel Belgrano, de fundar a Escola Militar de Matemática destinada à preparação de oficiais do exército e aos jovens que desejassem seguir a carreira das armas.
Outro artigo destacado menciona o fim da contrarrevolução em Córdoba. Depois do fuzilamento de Santiago de Liniers, que encabeçava a resistência ao governo da Primeira Junta, foram restabelecidos os vínculos com o Governo Revolucionário.
4 – C. Ensaio da história civil do Paraguai, Buenos Aires e Tucumán (Gregorio Funes – 1816)
O deão Gregorio Funes (Córdoba, 1749 – Buenos Aires, 1829) foi um eclesiástico, político e cronista destacado de sua época. Ele se formou em nossa Universidade como Doutor em Direito e, no ano de 1808, foi proclamado Reitor. Foi o primer crioulo a ocupar este cargo, no período universitário do governo do clero secular (1808-1820).
No dia 1 de julho de 1812 o Primeiro Triunvirato determinou, através de um decreto, que fossem assentados por escrito os acontecimentos da Revolução de Maio. Esta responsabilidade foi encarregada a Funes. Seu “Ensaio da História Civil do Paraguai, Buenos Aires e Tucumán” se destaca como a primeira interpretação do processo histórico que conduziu à Revolução de Maio e logo após à Independência.
O ensaio é formado por três tomos, cada um deles dividido em dois livros. Em cada um há um relato cronológico dos fatos que começam com o descobrimento europeu do Rio da Prata, por Juan Diaz de Solís, em 1516.
A importância desta obra foi reconhecida pelo Congresso da Nação em 2002, quando foi declarado o dia 1 de julho como «Dia do Historiador» aqui na Argentina.
4 – D. Paraguai ou província do Rio da Prata, com suas regiões adjacentes Tucumán e Santa Cruz de la Sierra (Diego de Torres)
Publicado por Jan Jensen, a autoria deste mapa é atribuída a Diego de Torres, primeiro provincial (governador) da Província Jesuíta do Paraguai.
Neste mapa podemos observar os principais acidentes geográficos e as divisões políticas das três governações incluídas dentro da antiga Província Jesuíta do Paraguai, administração jesuíta cuja capital era Córdoba e que se manteve até a expulsão em 1767.
Podemos observar as cidades e os povos originários que habitavam a região. Um dos principais trabalhos da Companhia de Jesus na América foi o relevamento das populações nativas para sua posterior missão evangelizadora. Isso explica a obra cartográfica de alguns membros da Ordem.